terça-feira, 17 de julho de 2012

PARABÉNS PELA VITÓRIA, GUERREIRO DO SILÊNCIO!

Sabe, quando saí do Hospital Paraná, com aquela “coisinha” de 40cm e pesando 1,260kg nos meus braços, achei que Deus havia me dado uma grande alegria, depois da tristeza de ter perdido seu irmão, Marcio. 
 
Ao mesmo tempo em que estava agradecida a Deus por isso, estava implorando pela sua vida porque, naquele momento, achei que você talvez não sobrevivesse, sendo tão pequenininho. Mas eu estava enganada. Você era forte, muito forte, mesmo tão miudinho e surdo!

Quando você foi para a Anpacin, tão pequenino ainda, era o Ric que levava você de ônibus, todos os dias. E ficava lá, esperando pacientemente, até o horário de saída. Todos os dias ele se atrasava para a escola por causa disso. Mas amava você tanto quanto nós todos amávamos e sabia que você precisava dele. Era o único que poderia fazer isso. E foi uma  grande prova do amor dele por você.
Quando você começou a estudar em Ivatuba e Dr. Camargo, suas avaliações foram preocupantes. As professoras afirmavam que você era temperamental e quando não queria fazer nada, não fazia, ficava irritado e não participava de mais nada, mas era um garoto bom e carinhoso.  

Em 98, sua avaliação foi a mesma. E continuávamos preocupados pensando no seu futuro. E nossa casa parecia um enorme dicionário de tantos nomes que havíamos escrito nos objetos, nas portas, janelas, etc. Nossa preocupação era que você, pelo menos, aprendesse a língua portuguesa escrita, uma vez que você não queria falar e nem usar aparelho. 

Que bobagem, né? A Libras foi a melhor coisa que aconteceu na sua vida (e na nossa).  A vida ensina que sempre temos algo a aprender.

Em 2000, você voltou para a Anpacin e começou mal no primeiro bimestre, tendo notas abaixo da média.  Foi complicado, mas continuamos lutando para que você tivesse uma chance de um futuro independente.

De repente, você despertou! Seu amor pelos estudos foi crescendo a cada dia. E você começou a falar em faculdade, em mestrado, em doutorado! E foi atrás dos seus sonhos. 

Como a gente se engana diante do poder de Deus!  Você não só sobreviveu como venceu todas as barreiras e dificuldades que sobrevieram nesses 24 anos. E se transformou nesse homem maravilhoso que é hoje.
Fiquei orgulhosa quando você começou a estudar na UFSC. Fiquei orgulhosa quando vi você lecionando no Afrânio Peixoto, no IAP e no Cesumar.  Também fiquei orgulhosa quando vi você lecionando na Fundação Catarinense. 
 
E quando vi você na Assembléia Legislativa de Santa Catarina “ensinando” cidadania aos deputados.   
 
Mas principalmente, fiquei muito orgulhosa pela sua capacidade e persistência em correr atrás dos seus sonhos. Você queria abraçar o mundo. E abraçou!

O seu temperamento não mudou, meu filho, mas tomou o caminho do bem. O seu temperamento, na realidade, era força de vontade. Uma força tão grande que conseguiu superar todas as dificuldades. Essa força foi direcionada aos seus sonhos e você conseguiu. 
 
Parabéns pela formatura, João Paulo. Parabéns por mais esta vitória! Que Deus continue enchendo de bênçãos o seu caminho, porque você merece. 

Estou muito feliz por você! 
Te amo sempre.


Agradecimentos:

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, que sempre esteve ao nosso lado, nos iluminou, nos deu força e enviou seus anjos para nos auxiliar.

À minha mãe, que sempre nos ajudou e incentivou nessa luta, desde o nascimento do João Paulo.

Ao meu marido, que sempre trabalhou pela nossa subsistência, para que pudéssemos ter tempo de nos dedicar aos estudos de educação especial.

Ao Ricardo, pelo amor que dedicou ao irmão, abrindo mão até de parte de sua vida adolescente, por causa dele.

À Elaine, irmã que serviu de “cobaia” a todos os conhecimentos que obtive e com quem aprendi a enxergar através dos preconceitos, a conhecer melhor os surdos e a trabalhar melhor com o João Paulo.

Ao André que orientou, ensinou, interpretou (mesmo sem ter feito um curso) e contribuiu muito para o desenvolvimento do irmão.

À professora Terezinha Schiavon B. Santana que abriu as portas da Educação Especial e afastou minhas inseguranças, apoiando-me em todos os momentos.

À diretora, Yara Maria de Oliveira Felipe e às professoras da Anpacin, de Maringá, que trabalharam com muita dedicação e deram ao João Paulo uma chance nas inúmeras oportunidades que se abriram pra ele.

À professora Maria Aparecida Trevisan Zanoni, que sempre acreditou em mim.

Ao Vanderlei Santini que abriu a primeira sala de Educação Especial em Ivatuba, contribuindo para a educação dos surdos no município, entre eles, o João Paulo.

Às professoras do Afrânio Peixoto que trabalharam com muito carinho com o João Paulo, mesmo não tendo especialização alguma na área, naquela época.

À professora Sueli Bolognese, de Dr. Camargo, que contribuiu muito para o desenvolvimento dele, numa época em que não havia educação especial em Ivatuba.

À Associação de Surdos de Maringá, que abriu as portas para que ele fosse instrutor de Libras.

Ao Adolfo Joaquim Semprebom (in memoriam) que acreditou e incentivou o João Paulo como Instrutor de Libras, criando o primeiro curso de Libras em Ivatuba.

Ao Murilinho Silva, um filho do coração, que esteve ao lado do João Paulo desde garotinho auxiliando sempre que pôde como amigo e, muitas vezes, como intérprete.

Aos intérpretes que o auxiliaram estes anos todos, especialmente ao Marcos Luchi, intérprete e amigo, que orientou o João Paulo nesta caminhada na UFSC.

A todos esses “anjos” que fizeram, e ainda fazem, parte da nossa história, a minha profunda gratidão.  Sem o apoio de vocês, não teríamos conseguido. Deus os abençoe.


Um comentário:

  1. Você,Fátima, é mãe guerreira! Você sabe que Deus nos dá os filhos que temos porque possuímos as condições necessárias pra ajudá-los a evoluir e serem felizes.Parabéns! Cumpriu sua tarefa com grande maestria.Considero você uma mãe vitoriosa.

    Por: Élida Versari

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