Senhor Jesus!
Enquanto nossos irmãos na Terra se
consagram hoje à lembrança dos mortos-vivos que se desenfaixaram da
carne, oramos também pelos vivos-mortos que ainda se ajustam à teia
física...
Pelos que jazem sepultados em palácios
silenciosos, fugindo ao trabalho, como quem se cadaveriza, pouco a
pouco, para o sepulcro;
pelos que se enrijeceram gradativamente
na autoridade convencional, adornando a própria inutilidade com títulos
preciosos, à feição de belos epitáfios inúteis;
pelos que anestesiaram a consciência no
vício, transformando as alegrias desvairadas do mundo em portões
escancarados para a longa descida às trevas;
pelos que enterraram a própria mente nos cofres da sovinice, enclausurando a existência numa cova de ouro;
pelos que paralisaram a circulação do próprio sangue, nos excessos da mesa;
pelos que se mumificaram no féretro da preguiça, receando as cruzes redentoras e as calúnias honrosas;
pelos que se imobilizaram no paraíso
doméstico, enquistando-se no egoísmo entorpecente, como desmemoriados,
descansando no espaço estreito do esquife...
E rogamos-te ainda, Senhor, pelos
mortos das penitenciárias que ouviram as sugestões do crime e clamam
agora na dor do arrependimento;
pelos mortos dos hospitais e dos manicômios, que gemem, relegados à solidão, na noite da enfermidade;
pelos mortos de desânimo, que se renderam, na luta às punhaladas da ingratidão;
pelos mortos de desespero, que caíram em suicídio moral, por desertores da renúncia e da paciência;
pelos mortos de saudade, que lamentam a falta dos seres pelos quais dariam a própria vida;
e por esses outros mortos,
desconhecidos e pequeninos, que são as crianças entregues à via
públicas, exterminadas na vala do esquecimento...
Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos que choras também como choraste sobre Lázaro morto...
E trazendo igualmente hoje a cada um
deles a flor da esperança e o lume da oração, sabemos que o teu amor
infinito clarear-no-á o vale da morte, ensinando-nos o caminho da eterna ressurreição.
Chico Xavier (Emmanuel)
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