segunda-feira, 25 de novembro de 2013

PARA OS PAIS E ADOLESCENTES



Pela primeira vez, vejo alguém falar de drogas e educação com tanta sensatez. O texto é longo, mas vale a pena ler até o fim!
 
"Quem sou eu para dar conselhos?

Eu dou no máximo testemunhos. Do que já vivi na minha vida e do que aprendi com os erros e acertos.

Mas não é a primeira vez que aparece uma mãe desesperada no meu in Box me traçando um perfil assustador de seu filho porque descobriu que o menino fuma Maconha.

Tenho 2 filhos, logo como pai tenho a preocupação de prepara-los para o mundo real e não para esta realidade maquiada que está sendo construída principalmente pela Classe Média e as classes mais altas, que vivem cercados por grades de condomínios.

A Rua é uma escola, e nem todo mundo passa de ano fácil por ela.

Esses dias uma mãe me perguntou se achava que deveria denunciar o filho dela porque ela descobriu que o menino estava fazendo uso de Maconha. Disse que ele havia virado um marginal e que estava com medo de que ele pudesse começar a roubar e até mesmo ter uma overdose.
 
Creio que a falta de diálogos entre filhos e pais hoje em dia é um fator determinante para esse abismo que se criou entre uma relação de confiança e de conhecimento que é bom que exista dentro do lar pela troca de uma relação que se pauta por escambo entre bens materiais para suprir a ausência do pai e da mãe.

Não há culpados nessa história.

Pai e e mãe hoje estão enfurnados em seus afazeres profissionais e pessoais. Passam muito pouco tempo próximo de seus filhos. Existe um distanciamento natural diante do atual mecanismo da sociedade. Muitos tem a equivocada crença de que é a Escola quem vai educar seus rebentos, e para não contrariar os jovens, perderam a noção de que existem limites e etapas que devem se estabelecidas no exercício da criação deles.

Quem pode, paga uma empregada, uma babá, alguém para fazer o que deveria ser feito. Cuidados básicos, diálogos, apresentar o mundo aos poucos. Mas falta tempo e falta boa vontade em alguns casos.
 
Garotos e garotas de 11, 12, 13 anos que já fumam maconha, que estão fazendo uso de álcool ( este aceito e até estimulado por muitos pais ), que tiram fotos íntimas e usam aplicativos para exibir para os colegas da escola, que já tem interesse sexual e começam a dar seus primeiros passos para um vida ativa. A grande maioria sem qualquer conhecimento ou consciência do que esteja fazendo e das consequências que possam sofrer.

Nas famílias mais conservadoras os assuntos tabus são alimentados pelo MEDO, PELA CULPA, PELO PRECONCEITO E PELA FALTA DE INFORMAÇÃO - moldando adolescentes através de uma concepção que - NA MINHA OPINIÃO - pode se voltar contra os próprios pais no futuro.

Essa Mãe desesperada porque seu filho estava fumando maconha, mal sabe que a maconha não mata de overdose. A preocupação dela é totalmente legítima, mas ficou nítido que não há qualquer diálogo ou conhecimento sobre o assunto para que possa haver uma intervenção sem que pra isso seja preciso internar o filho ou mesmo entregá-lo a polícia.

O assunto entrou em pauta hoje na minha casa por conta de uma reunião que deverá ser antecipada na escola para abordar estas questões.

Concordo plenamente que esse assunto deva ser colocado em pauta logo, em todos os lugares, pois os adolescentes de hoje sofrem de uma pequena dislexia relacionada a estas questões.

Eles tem acesso as drogas, ao álcool, ao sexo, a internet, mas vivem num mundo onde seus pais - pela lógica normal da preocupação - os blindam de todas as formas da realidade e eles não conseguem estabelecer uma relação real entre as facilidades que existem diante de tais ingredientes e os ensinamentos que a geração anterior teve por ter aprendido isso nas ruas e não em condomínios fechados com babás tomando conta.
 
Por que digo isso?

Porque querendo ou não, nós que crescemos nas ruas aprendemos que as consequências e os riscos eram reais e absolutos, e essa galera mais novinha por esta super protegida perde o poder de reação e fica mais distantes da realidade e dos possíveis problemas que possam acontecer quando se perde no caminho.

E quando a bomba estoura, não sabem como resolver ou são tratados como bebezinhos por seus pais. Alimentando a falta de responsabilidade.

Drogas, sexo e violência são o terror de qualquer família que tem adolescentes em casa. Mas o que fazer quando se percebe que um filho entrou por uma dessas vielas?

Já tive 12 anos e sei muito bem como é essa questão na prática. Andei com garotos e garotas mais velhas e sempre tive um diálogo aberto com minha mãe e com meu pai.

Ele me ensinou por exemplo que eu jamais deveria entrar num carro depois de uma festa, onde o motorista tivesse bebido. Não importasse a hora que fosse, que eu ligasse para casa e ele daria um jeito de me pegar ou então que eu pegasse um ônibus e retornasse em segurança. 

Esse é um ensinamento que procuro adotar até hoje.
 
Por outro lado meu pai tentou sem sucesso me assustar com as história de drogas contatas através do mito do pipoqueiro da escola. Do estereótipo dos drogados no fundo do poço e dos fantasmas e demônios pintados com relação a Maconha e outras drogas.
 
Essa teoria passada através do medo foi por água abaixo quando vi amigos meus fumando, bebendo e querendo comer as menininhas e não surgiam os tais demônios e fantasmas usados para tentar me afastar desse grupo.

Eu os via fazendo as coisas e não notava nada de tão assustador assim - essa é a REAL - e com isso eu entendia que tudo não passava de uma mentira.

É claro que tive amigos que se perderam no meio do caminho e sofreram graves consequências, mas foi uma minoria. Como e uma minoria que desenvolve, entre tantas pessoas que fazem uso recreativo de drogas, o vício e acabam pagando um preço caro.
 
Mas como não tem como saber que tipo de organismo nossos filhos possuem e como reagem com relação a isso, somando as variáveis sociais que mudaram bastante de tempo para cá. Hoje e tudo muito mais fácil e os pais são mais condescendentes diante da culpa pela ausência - qual é o melhor caminho?

Falar a verdade.

Abrir o jogo.

Mostrar ao seu filho que o poder de decisão deve ser dele. Que não precisa se sentir pressionado ou influenciado pelos colegas de turma caso não esteja afim de experimentar drogas, de beber ou de tentar transar com a coleguinha da escola.
 
Com as meninas, o alerta é ainda maior. O cuidado é dobrado. Pois é preciso municia-las de conhecimento para que não se tornem alvo fácil de pequenos crápulas que estão espalhados sem qualquer consciência e respeito - justamente por não terem aprendido isso em casa.

Orientá-las com relação aos riscos do sexo sem segurança. Das etapas para vivenciar cada uma dessas passagens e saber com quem e quando podem exercer seus desejos e suas aventuras.

Bobagem achar que controlamos 24 horas nossos filhos e que eles não sabem mentir e se desvencilhar do controle.
 
Se tiver curiosidade com relação a droga, que possa expor isso sem ser recriminado, amedrontado e execrado pela família. Que o diálogo possa oferecer diante de uma visão realista os problemas e as consequências de cada escolha. E uma vez feita a escolha, que eles possam contar com seus pais para serem ajudados caso estejam fora de controle. Que possam desenvolver a consciência ao longo da juventude com relação a seus limites e os problemas do exagero.

Prefiro que meu filho aprenda comigo sobre estes temas, do que com amigos que não tem a mesma experiência que nós adultos temos.

Mas também não vou ensinar meu filho a discriminar os colegas que por ventura façam uso de qualquer um desses entorpecentes. Incluindo o álcool que é o mais socialmente utilizado desde muito cedo.
 
O que ele vai aprender, ou que vou tentar ensinar, é que ele entenda que pode fazer parte da turma sem precisar - se achar assim válido - participar de tudo que a turma faz. E que saiba a hora certa de recuar, de se afastar e de visualizar possíveis problemas.
 
Foi isso que aprendi com a minha mãe. Que sempre falou sobre sexo, drogas e as questões relacionadas que vem em paralelo com estas experiências.

Antes de entrar em desespero porque descobriu que o filho fuma maconha, ou antes de tentar afastar o filho das "más companhias" é preciso saber qual é o quadro real, e isso só se descobre quando a relação entre pais e filhos é estreita. Às vezes o seu filho é que é o líder das "más companhias" e você nem sabe, ou descobre tarde.

Se realmente nós que somos pais de filhos adolescentes quisermos criá-los para o mundo, devemos ensiná-los a ter disciplina e a saber lidar com a liberdade. Sem criar monstros para assustá-los. Ao contrário... precisamos criar é um elo de confiança para que eles se sintam confortáveis para tratar do assunto e se por ventura eles vierem a desenvolver problemas mais graves, que possamos ter o cuidado em ajudá-los e não em julgá-los e condená-los diante da vida real.

Quanto menos ruídos existirem nesses debates, nessas abordagens, menos chances de termos problemas em casa com tais "Tabus".
 
Não estou dizendo que estou certo, estou apenas dando o meu testemunho, de como Pai e como alguém que está exposto a esse mundo e foi exposto muito cedo a tais questões, se posiciona diante delas.

É o que eu acho."

(By Tico Santa Cruz*)


*Tico Santa Cruz é músico, compositor, escritor e ativista social brasileiro, casado com Luciana Rocha há 10 anos, e pai de Lucas e Bárbara Odara. É o vocalista da banda Detonautas.

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