Ontem, uma pessoa me perguntou como era ter dois filhos surdos e como eu conseguia lidar com isso com tanta tranquilidade.
A questão não é "lidar com isso", mas saber o que esses filhos, diferentes ou não, esperam de nós, mães. Eu fui escolhida por eles, sem dúvida. Eles olharam lá de cima e me apontaram dizendo: - É aquela que queremos para nossa mãe! Todos eles fazem isso, sejam surdos ou ouvintes, ou diferentes em qualquer setor. Todos eles nos escolhem, e sabem o que estão fazendo. Nós é que não sabemos e vamos ter que aprender, queiramos ou não. E eu fui agraciada para aprender e ainda aprimorar o aprendizado.
Deus me deu de presente dois de Seus filhos, nessas situações. O que eu teria de tão especial para que Ele permitisse a esses dois me escolherem para cuidar deles? Que lições eu poderia tirar, e tirei, dessas experiências? Não se confiam missões importantes a pessoas despreparadas. E você descobre isso. Aquilo que, no calor do momento, imaginamos ser uma situação infeliz, torna-se um grande desafio. E uma oportunidade de grande evolução. E acabamos por descobrir uma força interior capaz de mover o mundo. E a gente move!
Essa força imensa vem do amor, não só do nosso amor por essas criaturinhas que nos escolheram, como do amor de Deus para conosco, pois é uma oportunidade que Ele nos dá de nos tornarmos pessoas muito melhores. Aprendemos a conviver e amar muito a todos os que são diferentes de nós. Eles, assim como nós, também vieram para evoluir e se tornarem pessoas melhores e você está ali para ajudar e ser ajudada nisso. E então você se dá conta do porquê Deus lhe deu esse presente.
Emily Perl Kingsley descreveu com muita propriedade a experiência de se ter uma criança que a maioria considera "diferente". É isso que acontece quando Deus nos surpreende com essa experiência maravilhosa: aprendemos a lutar, a ter coragem, persistência, paciência e, principalmente, sentir amor verdadeiro. Aprendemos que as diferenças não são importantes, pois a alma, o espírito é exatamente igual ao nosso.
Essas são as palavras de Emily, que podem fazer com que você, minha amiga, e todos os outros entendam como é a experiência de ter crianças diferentes:
"BEM VINDA À HOLANDA
Sempre me pedem para descrever a experiência
de ter uma criança com uma inabilidade – para tentar ajudar aquelas
pessoas que não compartilharam dessa experiência original, para que
possam compreender como se sentiriam.
É como esta imagem:
Quando você está indo ter um bebê , é como planejar uma fabulosa viagem de férias à Itália. Você compra um guia de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseum, o David de Michelângelo, as gôndolas em Veneza. Você aprende algumas frases acessíveis em italiano. É tudo muito emocionante!
Após meses esperando ansiosamente, o dia chega finalmente. Você faz suas malas e vai. Muitas horas depois, o avião aterriza. O
comissário de bordo entra e diz: Bem- vindos à Holanda! Holanda?Você
disse Holanda, o que significa bem-vindo à Holanda? Eu comprei uma
passagem para a Itália! Eu só posso imaginar que eu estou na Itália. Toda
a minha vida eu sonhei em ir para a Itália! “Mas é que houve uma
mudança no curso do vôo”. Chegamos na Holanda e aqui você deverá
permanecer.
A coisa mais importante é que não te levaram para um lugar
horrível, repugnante, sujo e cheio de doenças. É apenas um lugar
diferente.
Assim você deve ir comprar novos guias de viagem. Você deve aprender uma língua inteiramente nova. Você vai encontrar-se com novos grupos de pessoas inteiramente novos que você nunca pensou em encontrar. É apenas um lugar diferente.
O progresso é mais lento do que na Itália, menos ofuscante do que Itália. Mas depois você olha em torno, trava a respiração e começa a observar que a Holanda tem moinhos de vento, a Holanda tem tulipas, a Holanda tem até mesmo Rembrandts. Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e vindo da Itália e se vangloriam sobre o tempo maravilhoso que eles tiveram lá. E para o resto de sua vida, você dirá, “Sim é onde eu sonhei ir. O lugar que eu tinha sonhado em ir.”
E a dor daquela vontade você nunca perde, você sente sempre, porque a perda desse sonho é uma perda muito significativa. Mas se você passar a sua vida inteira lamentando o fato de que você não foi à Itália, você nunca estará livre para apreciar as coisas muito especiais e encantadoras da Holanda!”
(Escrito por Emily Perl Kingsley)
Tenho um sobrinho, duas cunhadas e um cunhado que são especiais, tive uma tia cega e meu pai ficou surdo aos 30 anos, não o conheci quando ele ainda escutava, isto pra mim sempre foi muito normal.
ResponderExcluir