quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A EXIGENTE ARTE DE EDUCAR


Hoje, na coluna "Francamente" do Jornal O Diário do Norte do Paraná impresso, Lu Oliveira fala sobre a arte de educar. Vale a pena ler - pais, mães e educadores - e refletir seriamente sobre isso.




“Se for pra errar com os filhos, que seja pelo excesso. Excesso de amor, de atenção, de zelo, de beijos, de abraços, de cuidados, de cobranças até. É fato que pais superprotetores podem criar filhos bananas, mas a negligência pode criar monstros, o que é bem pior. Eu prefiro encontrar um banana no meu caminho a encontrar um monstro.” 



Fiz essa reflexão no face há pouco dias. Houve quem não concordou. Algumas pessoas defenderam a tese de que proteção em demasia pode causar danos ainda piores aos filhos que a falta dela. Respeito essa opinião, mas ratifico a minha e vou além: a ausência paterna é até uma das causas da violência que assombra o nosso país há muitos anos. 



Não faz muito tempo discuti aqui na coluna o projeto de lei do senador Cristovam Buarque que prevê multa para pais que não comparecerem à escola dos filhos pelo menos a cada dois meses. Por aí já se tem uma ideia da situação: vivemos em uma sociedade em que leis precisam ser criadas para “estimular” pais e mães a se preocupar com seus crianças e adolescentes. É claro que frequentar o colégio, conhecer os professores e participar dos eventos escolares são ações que não esgotam a participação familiar na vida dos pequenos. Quem já perpetuou a espécie sabe do que estou falando: são 24 horas de exigência.



Em “Quem ama, educa!”, o psiquiatra e escritor Içami Tiba reforça essa ideia. O título do livro é uma alusão ao ditado “quem ama, cuida”. E educar pressupõe afeto, mas também cobrança. Se sou presente na vida dos meus filhos e os encho de carinho, não preciso me sentir culpada nas situações em que a austeridade for necessária. Não preciso ficar com remorso quando negar a sobremesa no shopping depois do almoço farto. Não tenho que me autoflagelar todas as vezes em que não conseguir comprar o presente de Natal que eles estavam esperando. E não preciso ficar preocupada com cara emburrada. 



É fato que há pais grudentos demais. Aliás, em qualquer relação, ser grude é um problema. Não defendo a postura de familiares que sejam guarda-costas dos seus filhos, que vigiem seus passos e sejam controladores ao extremo. Sufocar não é uma boa opção, mas ainda acredito que a distância que existe entre pessoas que vivem sob o mesmo teto causa sequelas mais graves. A falta de diálogo e de participação permite que meninos e meninas façam suas próprias escolhas. E, por mais que haja muito adulto por aí que ainda não aprendeu a fazer escolhas também, sabemos que eles precisam de nós nos momentos em que a vida exigir um posicionamento.



A negligência paterna se manifesta em casos emblemáticos. É o homem que se separa da mulher e nunca mais vai a uma apresentação da escola do filho. É a mulher que não assume o papel de mãe e atribui suas responsabilidades à avó da criança. São os pais que se iludem de que fazer a matrícula escolar e comprar uma mochila bacana já são motivo para merecer medalha. É o pai que mal sabe quem são os amigos da filha. É a mãe que se surpreende com a reprovação do menino que tirou notas baixas o ano inteiro. 



Pessoas bananas, fruto do excesso de proteção, não têm atitude. A vida e seus tentáculos irão devorá-la. Entretanto, pior que pessoas com esse perfil, são aquelas que têm um comportamento nocivo, que não poupam esforços em levar vantagem em tudo e que não pensam meia vez antes de puxar o tapete alheio. São os monstros, resultado da falta de amor, de cobrança, de orientação. Não são vítimas, mas é provável que o destino fosse outro caso a família tivesse seguido a teoria do escritor Içami Itiba.



Mas sempre é tempo de refletir sobre nossas atitudes e mudá-las. Como educadores - no papel de pais, mães ou professores - necessitamos estar atentos a como estamos educando nossos pequenos. Em tempos de discussões e previsões sobre o fim do mundo, não é o apocalipse que precisa ser foco de atenção. É o nosso eterno recomeço


Fonte: Lu Oliveira.

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