“Conta-se
que, chegada ao termo da gravidez, dona Pica teve de sofrer por longo
tempo sem poder dar à luz. Mas eis que um peregrino bate à porta de casa
e diz à criada, vinda para lhe abrir, que o parto só se daria quando a
mulher padecente fosse transportada, do seu quarto suntuoso, para o
estábulo da casa, e ali depositada sobre a palha, numa das manjedouras!
Assim foi feito; e, apenas colocada na manjedoura, a mulher soltou o
grito angustioso do parto, dando à luz um filho, que pela primeira vez, -
como outrora o Salvador, - repousou num leito de palha, dentro de um
estábulo.
Neste local, atualmente, há uma capela. Traz o nome de San Francescuccio, e, por cima da porta, lê-se a seguinte inscrição: ‘Esta capela foi estábulo do boi e do burro, no qual nasceu Francisco, espelho do mundo’.
O mesmo caráter lendário do nascimento num estábulo tem outra tradição. Segundo esta, o mesmo peregrino que dera o conselho de transportar a mãe para o estábulo ter-se-ia achado também na catedral no momento do batizado, logo após o nascimento do menino, e teria segurado o pequeno Francisco na pia sagrada.
Narra ainda o
manuscrito que, na volta do batizado do recém nascido, um peregrino veio
bater à porta de casa, e exprimiu o desejo de vê-lo. A serva que lhe
abriu recusou-se, naturalmente, a satisfazer-lhe este desejo; mas o
estrangeiro declarou que não se retiraria enquanto não visse a quem
queria ver. Como o senhor Pedro estava ausente, a serva foi referir o
fato à dona da casa, a qual, com admiração de todos, ordenou
satisfazer-se o peregrino. O menino foi, pois, levado à rua, onde o
estrangeiro esperava; e este, mal viu aquele, tomou-o nos braços, como
outrora o velho Simeão fizera com o Menino Jesus, e disse: ‘Hoje nesta
rua nasceram dois meninos, dos quais um, isto é, este, virá a ser um
grande homem no mundo.’
No batismo, o filho do senhor Pedro recebera o nome de João. O pai achava-se então longe de Assis, numa nova viagem pela França, e, no seu regresso, decidiu mudar o nome do seu primogênito, chamando-lhe ‘Francisco’ em vez de João.”
Johannes Joergensen
(Livro: “São Francisco de Assis”)
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