sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A OCASIÃO FAZ O LADRÃO (e o analfabeto político contribui para isso)



Não consigo me acostumar com a surpreendente passividade bovina com a qual o povo se submete ao sistema político, alienando-se no pão e circo, enquanto os grandes continuam à vontade, segundo sua ganância.
Isso me faz pensar se realmente esses grandes são os culpados. Existem os fracos e oprimidos, e os fortes opressores e culpados, certo? Não sei...isso me soa meio falso. Não tenho dúvidas de que os opressores são os responsáveis pela dominação, e isso sempre vai existir. Mas eles não são os únicos responsáveis.

Tenho observado que o povo é tão culpado quanto eles. Essa culpa é demonstrada pelo comodismo e desinteresse pelas grandes questões – como a educação, por exemplo – e pelo interesse pelas menores questões. Anafalbetismo político (*).

Um exemplo disso é o bolsa-família. É um assunto muito popular que obriga todo governante a aprovar e prosseguir com essa ajuda governamental. Mas uma questão básica que pode ser, por exemplo, um bom sistema de saúde, não é tanto exigida pelo mesmo povo que não aceita perder os incentivos do bolsa-família.

Veja bem, não sou contra o bolsa-família, muito pelo contrário, ele tira muita gente da fome, mas quando a coisa pega pro seu lado e você corre o risco de perder suas “mordomias” e direitos (comodistas) adquiridos, todo mundo sabe defender seu lado muito bem. Por isso o povo deveria exigir TODOS os seus direitos e não só o bolsa-família.

Não sei se realmente existem conspirações para se “pegar”, “manter” e “perpetuar” o poder. Essas conspirações são somente teorias, pois elas são desnecessárias. O povo conspira naturalmente contra si mesmo.

O brasileiro se contenta com tão pouco! Às vezes me pergunto: o que faria esse povo sair dessa “zona de conforto” - e que conforto miserável - para ir em busca de uma condição de vida melhor, de melhor educação, saúde, segurança, emprego, moradia, etc.

Enquanto houver um povo minimamente satisfeito, de barriga cheia e novelas para assistir à noite, acomodado, alienado das questões mais importantes da sociedade e  enquanto houver o “analfabeto político”, haverá o falso líder promovendo mais e mais o afundamento desse mesmo povo na inconsciência e no subdesenvolvimento, bem como satisfazendo seus próprios e ilimitados interesses.

Pois é, como disse um amigo, ‘a ocasião faz o ladrão’. “Enquanto o povo aqui de baixo não se importar, o pessoal lá de cima vai roubar. Não adianta ficar andando em círculos esperando que o pessoal de cima não roube, isso só existe na sua cabeça. Ele não existe e nunca vai existir na vida real, enquanto o povo, que é quem realmente tem poder, preferir continuar lotando campos de futebol e shows artísticos, em vez de lotar o plenário de suas respectivas câmaras legislativas e fiscalizar os seus governos.” Esse discernimento precisa fazer parte do povo.
Ou seja, se há uma “culpa”, por esta situação de desprezo dos governantes pelo povo, não é só culpa deles ou da mídia. Quero dizer que, salvo raras exceções, o povo também não está nem aí para o seu crescimento pessoal e coletivo. Isso reforça minha crença de que cada um, e a comunidade consequentemente, têm exatamente aquilo que merecem. Nem mais, nem menos.

E quem consegue enxergar um pouquinho melhor tudo isso, segue observando todo esse cenário, tão abismada quanto incompreendida (e xingada de chata e reacionária, quando não com adjetivos pejorativos).

Mas não perco as esperanças, se cada um fizer sua parte e processar seu autoconhecimento, o todo (comunidade) pode lentamente melhorar o nível.

Ai, então, teremos uma revolução!!!


(*) O analfabeto político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (Bertolt Brecht)


(Adaptado de Ronaud Pereira)


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