Não consigo me acostumar com a
surpreendente passividade bovina com a qual o povo se submete ao sistema
político, alienando-se no pão e circo, enquanto os grandes continuam à vontade,
segundo sua ganância.
Isso me faz pensar se realmente esses
grandes são os culpados. Existem os fracos e oprimidos, e os fortes opressores
e culpados, certo? Não sei...isso me soa meio falso. Não
tenho dúvidas de que os opressores são os responsáveis pela dominação, e isso
sempre vai existir. Mas eles não são os únicos responsáveis.
Tenho observado que o povo é tão
culpado quanto eles. Essa culpa é demonstrada pelo comodismo e desinteresse
pelas grandes questões – como a educação, por exemplo – e pelo interesse pelas
menores questões. Anafalbetismo político (*).
Um exemplo disso é o bolsa-família. É
um assunto muito popular que obriga todo governante a aprovar e prosseguir com essa
ajuda governamental. Mas uma questão básica que pode ser, por exemplo, um bom
sistema de saúde, não é tanto exigida pelo mesmo povo que não aceita perder os
incentivos do bolsa-família.
Veja bem, não sou contra o
bolsa-família, muito pelo contrário, ele tira muita gente da fome, mas quando a
coisa pega pro seu lado e você corre o risco de perder suas “mordomias” e
direitos (comodistas) adquiridos, todo mundo sabe defender seu lado muito bem. Por
isso o povo deveria exigir TODOS os seus direitos e não só o bolsa-família.
Não sei se realmente existem
conspirações para se “pegar”, “manter” e “perpetuar” o poder. Essas
conspirações são somente teorias, pois elas são desnecessárias. O povo conspira
naturalmente contra si mesmo.
O brasileiro se contenta com tão
pouco! Às vezes me pergunto: o que faria esse povo sair dessa “zona de
conforto” - e que conforto miserável - para ir em busca de uma condição de vida
melhor, de melhor educação, saúde, segurança, emprego, moradia, etc.
Enquanto houver um povo minimamente
satisfeito, de barriga cheia e novelas para assistir à noite, acomodado,
alienado das questões mais importantes da sociedade e enquanto houver o “analfabeto político”, haverá
o falso líder promovendo mais e mais o afundamento desse mesmo povo na
inconsciência e no subdesenvolvimento, bem como satisfazendo seus próprios e
ilimitados interesses.
Pois é, como disse um amigo, ‘a ocasião
faz o ladrão’. “Enquanto o povo aqui de
baixo não se importar, o pessoal lá de cima vai roubar. Não adianta ficar
andando em círculos esperando que o pessoal de cima não roube, isso só existe
na sua cabeça. Ele não existe e nunca vai existir na vida real, enquanto o
povo, que é quem realmente tem poder, preferir continuar lotando campos de
futebol e shows artísticos, em vez de lotar o plenário de suas respectivas
câmaras legislativas e fiscalizar os seus governos.” Esse discernimento
precisa fazer parte do povo.
Ou seja, se há uma “culpa”, por esta situação
de desprezo dos governantes pelo povo, não é só culpa deles ou da mídia. Quero dizer que, salvo raras
exceções, o povo também não está nem aí para o seu crescimento pessoal e
coletivo. Isso reforça minha crença de que cada um, e a comunidade
consequentemente, têm exatamente aquilo que merecem. Nem mais, nem menos.
E quem consegue enxergar um pouquinho
melhor tudo isso, segue observando todo esse cenário, tão abismada quanto
incompreendida (e xingada de chata e reacionária, quando não com adjetivos
pejorativos).
Mas não perco as esperanças, se cada
um fizer sua parte e processar seu autoconhecimento, o todo (comunidade) pode
lentamente melhorar o nível.
Ai, então, teremos uma revolução!!!
(*) O analfabeto político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve,
não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o
custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do
sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (Bertolt Brecht)
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (Bertolt Brecht)
(Adaptado de Ronaud Pereira)
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