Funcionária comissionada de Campo Largo filmou tentativas de compra. Prefeito Edson Basso (PMDB) e candidato a vereador estão envolvidos.
O Ministério Público (MP)do Paraná começou a investigar preliminarmente
na segunda-feira (24) a denúncia de envolvimento do atual prefeito de
Campo Largo, Edson Basso (PMDB),
e do candidato a vereador José Antônio Lopes (PMDB) na tentativa de
compra de apoio de uma funcionária comissionada do município da Região
Metropolitana. Eles foram filmados pela própria funcionária negociando
gratificações em troca do apoio.
Os dois vídeos que mostram a ação dos políticos foram postados na
internet no sábado (22), e chegaram ao MP por parte da própria
funcionária.
Alguns trechos das conversas:
No primeiro vídeo, gravado no dia 4 de setembro, Edson Basso conversa
com a funcionária, que questiona o motivo de não ter recebido
gratificações extras para ajudar na campanha, assim como as colegas de
trabalho. “O teu (salário) não foi arrumado? Mas eu autorizei os três”,
se surpreende o prefeito. Na sequência da conversa, Basso pergunta quem a
funcionária vai apoiar para vereador. Quando ela confirma que deve
apoiar José Antonio Lopes, conhecido como Batata, o prefeito propõe um
acerto. “Aí eu te ajudo esse mês, no final do mês, te dou uma ajuda de
custo, já que você vai ficar na campanha né. Combino com o Batata para
você ficar na campanha, né”, sugere.
Depois da negociação, a funcionária reclama para o prefeito que foi
coagida a trabalhar nos sábados e domingos por uma mulher identificada
como “Cris”, porque isso seria atribuição do cargo em comissão que ela
ocupa. “É claro que o cargo em comissão, entende-se, é aquele cargo
quando chega em época de campanha, ajuda sábado, domingo. Se for ver, o
cargo de comissão é isso, né”, responde Basso. A funcionária responde
que saiu de férias justamente para poder ajudar na campanha durante a
semana, mas não aos sábados e domingos. Nestas eleições, o atual
prefeito apoia a candidatura de Udo Schmidt Neto, do mesmo partido.
á no dia seguinte, a funcionária se encontra com Batata na mesma sala
de reuniões do gabinete do prefeito, em encontro agendado pelo próprio
Basso. Ela diz que conversou com o prefeito sobre um auxílio financeiro
para ajudar na campanha. “No seu salário você não tem nada de
gratificação né? Eu vou me propor com ele, vou falar com ele”, garante
Batata. Na sequência, ele explica que o “compromisso” será executado em
forma de gratificação anexa ao salário, que irá sair do gabinete do
prefeito, e não da secretaria de saúde, onde ela está lotada.
“E você arregaça as mangas para trabalhar e mostrar os votos para nós
em Ferraria (...) Se nós acertarmos mesmo e aparecer votos em Ferraria,
eu te dou a gratificação”, explica a contrapartida, que, se executada,
deve conferir a gratificação para a funcionária já no final de outubro.
Batata e a funcionária seguem conversando sobre um esquema de concessão
de dez litros de gasolina por semana para quem colocar propaganda
política no carro, e lembra do caso em que conseguiu votos em troca de
favores. “Puxa, esse aqui eu fechei com dois cateterismos na família,
mas não da mesma família, mas de pessoas lá. É uma estradinha bem
simples, já me concretizaram que vão fazer, cem metros, sabe quanto? Não
por, assim, sem demagogia, sem nada, que o homem chegou a chorar quando
consegui o cateterismo - 70 votos. Aonde que você consegue no interior
isso, entendeu?”, narrou o candidato a vereador.
Após atender uma ligação telefônica, em que negocia a ida de
maquinário para a região do Jardim Guarani, Batata explica que está
arrumando uma rua no local, e que isso deve ser revertido em mais votos.
“Se as máquinas forem hoje dá um estouro lá no Guarani, vai ser a coisa
mais linda do mundo. Porque eu tenho certeza, se hoje é quarta, até
sexta deixam tudo pronto. Minha Nossa Senhora, daí sim, aí estoura nossa
votação lá também”, comemora.
Na sequência, Batata comemora explicitamente que, pela primeira vez,
conta com o apoio da máquina pública para se eleger, principalmente da
Secretaria de Viação e Obras. “E o bom sabe o que que é? Está vindo
‘Viação e Obras’ trabalhar. Nunca tive, nós nunca tivemos isso né
Juarez? Nas nossas candidaturas anteriores, nunca tivemos o apoio de
máquina, nada, e hoje ‘Viação e Obras’ trabalhando de graça para mim, de
manga arregaçada”, encerrou.
Este processo é denominado Ação de Investigação Judicial Eleitoral
(AIJE), baseado em peças de informações que devem fundamentar a
propositura de uma ação civil pública, a ser analisada pelo Juiz
Eleitoral. "A sentença judicial pode então declarar a inegibilidade dos
envolvidos que não possuem mandato, e cassar o registro de candidaturas
dos concorrentes. É um procedimento para verificar o abuso de poder
econômico e abuso do poder político, em outras palavras, o uso da
máquina pública", afirmou o promotor Aurélio José Aggio, que já encaminhou a denúncia para perícia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
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