Hoje, na coluna "Francamente" do Jornal O Diário do Norte do Paraná impresso, Lu Oliveira faz uma reflexão sobre a reprovação escolar, muito a calhar nesse período do ano. Reproduzo aqui o texto por achar que é um alerta a todos: pais, filhos e professores (e que ainda está em tempo de evitar ou até mesmo, aceitar, se necessário).
Conversando sobre a reprovação
Com a proximidade do término do
ano letivo, muitos alunos, já aprovados, sentem o aroma das férias escolares.
Outros tantos, porém, vivem o drama das provas finais já que delas depende a
matrícula na série seguinte. E, nessa
época, os personagens mudam, mas o enredo é sempre o mesmo: pais e mães,
aflitos, tentam ajudar seus filhos a vencer o fantasma da reprovação. A discussão
é ampla e penso que seja preciso avaliar a participação de todos os envolvidos
nesse processo.
Os alunos: como escrevi no primeiro artigo desta coluna, nós
adultos somos faróis na vida dos pequenos. Sozinhos, não conseguirão caminhar.
Ou, pelo menos, não escolherão o melhor caminho. Por isso, é preciso exercer a
autoridade que nos cabe e cobrar o envolvimento deles nas atividades escolares.
Um aluno que não consegue obter média suficiente para ser aprovado não pode ser
rotulado como vítima. Ele teve grande responsabilidade nesse resultado. Exceto
os casos de acentuada desestrutura familiar, a qual afeta o rendimento na
escola, a meninada que tem casa, comida, roupa lavada e amor não pode se furtar
ao compromisso de se dedicar aos estudos. Pais que atribuem ao colégio ou a
determinado professor a culpa por seu filho não conseguir passar de ano podem cometer
um terrível engano. E pior: fazem com que ele não aprenda a assumir as
consequências dos seus atos.
A família: de fato, é uma experiência dolorosa para os pais aceitar
a reprovação do filho. Fora o investimento financeiro, houve um investimento de
tempo, de dedicação, de envolvimento. E, no final, a triste notícia. Mas é necessário fazer uma leitura do que
levou a criança ou o adolescente a esse resultado. Pais e mães conscientes de
que fizeram tudo que estava ao seu alcance não devem se sentir culpados. Aliás,
a palavra “culpa” é sempre muito pesada. Prefiro “responsabilidade”. Trabalho
com adolescentes há bastante tempo e percebo, em algumas situações, que nem
sempre a família se envolve com o desempenho deles no colégio, talvez por
acreditar que, nessa idade, já não precisem tanto de atenção com as atividades
da escola. Ledo engano. Mesmo os de 17 anos, prestes a concluir o ensino médio,
precisam de uma bússola que os oriente. E a principal bússola são os pais. Se
houver um acompanhamento das notas desde o primeiro bimestre, não há como a
reprovação ser uma surpresa.
O professor: quando participo de um conselho de classe de final de
ano, não aceito responder “reprovo”. Digo “não aprovo”. E é bem diferente.
Depois de todas as provas – e há uma série de oportunidades para que a nota
seja recuperada -, o aluno que não obtém a resultado necessário já chega
reprovado ao conselho. Portanto, não sou eu que irei reprová-lo. Meu papel,
como professora que acompanhou todo o seu envolvimento durante o ano, é avaliar
se, mesmo sem conseguir atingir a média, ele tem condições de seguir adiante.
Além dos números, o esforço e o comprometimento do estudante também são levados
em conta. Mas é importante ressaltar o
papel docente em todo o processo de ensino-aprendizagem a fim de evitar as
reprovações ou, pelo menos, diminuir seus índices. Educadores comprometidos
como tablado não serão negligentes durante o ano letivo e estarão sempre
atentos ao resultado das provas e trabalhos. Apenas os que fazem de conta que
são professores é que também fazem de conta que ensinam, enquanto os alunos
fazem de conta que aprendem.
A escola: seja na rede pública ou na rede privada, infelizmente
ainda há uma “teoria do empurrãozinho” que predomina em algumas instituições.
De forma velada, e em outras situações de forma explícita, professores são
convidados a buscar uma maneira de aprovar determinado aluno. Jamais defenderei
a reprovação como forma de castigo, afinal, uma história de vida precisa ser
levada em conta. Mas premiar uma criança ou um adolescente que levaram na
brincadeira o que precisaria ser levado a sério não é uma medida inteligente. A
escola tem o dever de informar a família sobre o que acontece durante o ano
letivo, tem o compromisso de oferecer aos alunos oportunidades para que
consigam progredir, mas, caso isso não aconteça, a reprovação precisa ser
avaliada como uma consequência. Empurrá-los para a série seguinte, apenas para
atingir estatísticas ou não perder matrículas, só contribui para o caos na
educação.
É isso. Quando o aluno assume seu
compromisso e os pais e a escola cumprem com o seu papel, as chances de
reprovação diminuem consideravelmente. Entretanto, se ela acontecer, não será o
fim da história. Será só o começo de mais um capítulo.
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